O REI DE RAMOS
Chico Buarque (Brazil) - 1979
Ele disse pra escola caprichar
No desfile da noite de domingo
Com ginga, com fé
Pediu muita cadeira a requebrar
Minha boca com dente pra caramba
E samba no pé
De repente o pandeiro atravessou
De repente a cuíca emudeceu
De repente o passista tropeçou
E a cabrocha gritou que o nosso rei morreu
Viva o Rei de Ramos
Que nós veneramos
Que nós não cansamos de cantar
Viva o rei dos pobres
Que gastava os cobres
Nas causas mais nobres do lugar
Viva o rei dos prontos
Que bancava os pontos
Que pagava os contos do milhar
Viva o Rei de Ramos
Viva o Rei, viva o Rei
Viva o Rei de Ramos
Os seus desafetos e rivais
Misericordioso, não matava
Mandava matar
E financiava os funerais
As pobres viúvas consolava
Chegava a chorar
De repente gelou o carnaval
De repente o subúrbio estremeceu
E a manchete sangrenta do jornal
Estampou garrafal que o nosso rei morreu
Viva o Rei de Ramos
Que nós veneramos
Que nós não cansamos de cantar
Viva o rei dos crentes
E dos penitentes
E dos delinquentes do lugar
Viva o rei da morte
Da lei do mais forte
Do jogo, da sorte
E do azar
Viva o Rei de Ramos
Viva o rei, viva o rei
Viva o Rei de Ramos